A segurança de profissionais que atuam diretamente em locais e situações de risco de contaminação por agentes biológicos ficou mais evidente nos últimos meses, com a disseminação do Ebola pelo mundo. Diversos profissionais já foram contaminados – alguns deles não resistiram às complicações provocadas pelo vírus.

A categoria mais atingida foi a de médicos e enfermeiros, que tentam controlar a doença em países africanos com a epidemia (Guiné, Serra Leoa e Libéria). Duas enfermeiras foram contaminadas pelo Ebola nos Estados Unidos e outra na Espanha. Dados da Organização Mundial de Saúde indicam que 450 profissionais de saúde foram infectados pelo vírus. Mais da metade morreu (244).

Outros profissionais também foram vítimas da exposição direta a doentes, como motoristas, cinegrafistas, dentre outros trabalhadores. Sendo a categoria mais atingida devido à exposição direta a pacientes infectados, médicos e enfermeiros ficam à mercê de equipamentos de proteção individual inadequados e também pela falta de orientação correta para evitar a contaminação.

No Brasil, um caso suspeito (dado como negativo por dois exames) fez com que o Ministério da Saúde e as Secretarias Estaduais de Saúde dessem início aos planos de contingência para o atendimento de possíveis casos suspeitos.

Segurança nos serviços de saúde

Como o técnico de segurança pode agir nestes casos? A Norma Regulamentadora Nº 32 (Segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde) é o documento que orienta o técnico de segurança na promoção da segurança de trabalhadores de hospitais e centros de atendimento médico.

O item 32.10.2 da NR norteia o técnico a se interar sobre as ações da Comissão de Infecção Hospitalar (CCIH) para a elaboração do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO).

O diretor do SINTEST-MG Raimundo Aparecido da Silva é técnico em enfermagem do trabalho e técnico de segurança da UNIMED. Silva sugere que o técnico de segurança deva sempre cobrar e orientar médicos e enfermeiros, além de demais trabalhadores expostos a riscos biológicos em hospitais, sobre a utilização de luvas com o Certificado de Aprovação do Ministério do Trabalho, além de máscaras para evitar o risco de exposição nos olhos e boca.

"É preciso informar aos agentes da saúde sobre a necessidade de nunca tentar reencapar a agulha após utilizá-la em pacientes. Isso evita o risco de contaminação por sangue infectado”, sugere o diretor responsável pela subsede do SINTEST-MG em São João Del Rei.

Ebola e o risco de contaminação

A Norma Regulamentadora Nº32 ((Segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde) lista os diversos agentes biológicos que causam algum risco a seres humanos. Eles são classificados com base no nível de risco individual para o trabalhador e de disseminação para a coletividade, junto ao nível de probabilidade de causar doenças em humanos. Esses agentes são classificados do nível de risco 1 (baixo risco de contaminação) ao 4 (altíssimo risco de contaminação e mortalidade).

Nesta lista, o vírus Ebola é classificado como um Filoviridae (apenas o vírus Marburg e Ebola são considerados filovírus) e recebe a Classificação de Risco 4, o mais alto.

Classe de risco 4: risco individual elevado para o trabalhador e com probabilidade eleva da de disseminação para a coletividade. Apre senta grande poder de transmissibilidade de um indivíduo a outro. Podem causar doenças graves ao ser humano, para as quais não e- xistem meios eficazes de profilaxia ou tratamento.

A mortalidade pelo Ebola gira entre 50% e 90%. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a última contagem revela 4.922 mortes pelo vírus durante esta epidemia, que teve início em março deste ano. A doença é transmitida por fluidos orgânicos infectados, como o sangue, saliva, urina, esperma e secreções nasais.

Equipamentos de Proteção Individual para agentes de saúde

O uso adequado dos EPIs é fundamental para a não exposição dos profissionais de saúde a doenças infecciosas. A Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais orienta que estes profissionais devem seguir as precauções de controle de infecção recomendadas pelo hospital.

Médicos e enfermeiros que cuidam de doentes com vírus de alto poder de infecção precisam usar aventais, luvas, botas, máscaras e óculos de proteção, ou protetores faciais. É proibida a reutilização de equipamentos ou roupas de proteção, a menos que elas tenham sido desinfectadas corretamente. As luvas devem ser trocadas após o cuidado de um paciente para outro.

As autoridades também precisam dar prioridade ao uso de proteções coletivas, lembra o presidente do SINTEST-MG, Cláudio Ferreira. “O EPI é a última proteção a ser pensada”, ressalta.

Ferreira enfatiza a necessidade de os governos e empresários do setor da saúde implantarem políticas para a segurança coletiva dos trabalhadores, como a construção de áreas isoladas para os suspeito de contaminação.

As ambulâncias que carregam pacientes infectados pelo vírus precisam ser esterilizadas com frequência. Outra medida de proteção coletiva é a utilização de coletores de descarte de materiais, de maneira isolada dos demais, além do uso de bolhas de isolamento para pacientes com suspeita da doença. Isso evitaria a contaminação dos profissionais da saúde, comenta o presidente do SINTEST-MG.