A explosão que tirou a vida de duas pessoas na Gerdau, em Ouro Branco, na semana passada, jogou luz sobre as mortes e lesões de trabalhadores e engrossa as estatísticas. Dados do Anuário Brasileiro de Proteção 2017 apontam que os 62.566 acidentes de trabalho registrados em Minas Gerais em 2015 causaram um rombo de R$ 12,25 bilhões aos cofres públicos, às empresas envolvidas e às famílias das vítimas.
O dinheiro contabilizado é resultado de custos hospitalares, dias ou horas que as empresas não produzem e, até mesmo, gasto das famílias com remédios e produtos diversos.
Os números colocam Minas Gerais na segunda posição em quantidade de acidentes de trabalho no país, atrás apenas de São Paulo. Eles indicam, ainda, que um a cada 100 trabalhadores foram vítimas de sinistros em 2015.
Transformação
A indústria da transformação, na qual a Gerdau está inserida, foi responsável pela maior parte das ocorrências. Em 2014, último dado disponível, o setor registrou 21.198 acidentes. O número é menor do que o registrado em 2013, quando as ocorrências atingiram 23.424 pessoas no segmento.
De acordo com o diretor da revista Proteção, responsável pelo Anuário Brasileiro de Proteção, Alexandre Gusmão, o desemprego é um dos motivos que explicam a queda no número de acidentes. “Na maioria dos casos, as empresas demitem os empregados menos experientes, que têm menor percepção do risco e menos preocupação com segurança”, justifica.
Ele explica que em épocas de crescimento econômico expressivo, é comum que empresas que contratam em massa, como construção civil, recrutem pessoas sem experiência. “Mesmo com intensos treinamentos, muitos desses trabalhadores não sabem usar os equipamentos de segurança, ou não dão muita importância a eles. E é aí que está o problema. As ocorrências são mais frequentes”, diz. Em contrapartida, em tempos de vacas magras essas mesmas pessoas são as primeiras a serem dispensadas.
Tipos
Os acidentes de trabalhos típicos, como aqueles que envolvem cortes, quedas e amputações, são os mais frequentes. Em 2015 foram 39.355 registros. Há, ainda, os acidente de trajeto, que ocorrem quando o trabalhador está indo para o trabalho ou voltando para a casa (9.254) e as doenças (849).
Conforme Gusmão, alguns tipos de imprevistos que acometem o empregado muitas vezes não são informados pela empresa ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) como acidente. São as ocorrências sem Comunicações de Acidente de Trabalho (CAT).
“Muitas vezes, o trabalhador é afastado do trabalho por doença, por exemplo. Na perícia da Previdência, fica claro que um movimento repetitivo, ou a inalação de alguma substância por muito tempo provocou aquele problema. Esse tipo de ocorrência é descrito como ‘sem CAT’”, afirma. Em 2015, 13.108 acidentes foram descritos dessa forma.
Subnotificações
O especialista afirma que a quantidade de subnotificações pode aumentar o número de acidentes em até quatro vezes. Em muitos casos, a fatalidade acomete profissionais informais ou, simplesmente, não é informado corretamente ao Ministério do Trabalho. Isso significa que as 62.566 representam, na verdade, 250.264 casos.
Transporte e logística lideram mortes no emprego
A incidência de óbitos no setor de transporte e logística foi a maior entre os segmentos em 2014, segundo dados mais recentes do Anuário Brasileiro de Proteção 2017. Dos 255.857 trabalhadores, 69 sofreram acidente fatais, o equivalente a 1,3%. No acumulado de 2015 também houve redução na quantidade de mortes no país, passando de 338 para 304, queda de 12%.
Além da retração no número de trabalhadores, o superintendente do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em Minas Gerais, João Carlos Gontijo de Amorim, atribui a queda na quantidade de acidentes e óbitos à maior intensidade das ações da Pasta no Estado.
“A Superintendência mineira também intensificou o diálogo com as empresas. Nossa intenção é orientá-las para que as ocorrências diminuam cada vez mais. Trabalhamos para promover a segurança do trabalhador. As indústrias e os comércios que não seguirem a lei, no entanto, serão autuados”, afirma. Ele ressalta que os fiscais do MTE visitam as empresas em diligências rotineiras, mas também atuam por denúncias anônimas e determinações do Ministério Público (MP).
No dia do acidente em Ouro Branco, a Gerdau informou em nota que os equipamentos da usina estavam em condições adequadas, obedecendo aos padrões de segurança estabelecidos na legislação vigente